
Por que a síndrome do impostor é comum e como lidar com ela

E se você não for tão bom quanto os outros pensam? Síndrome do impostor e como conviver com ela
Na sua cabeça, soa algo assim: "Eu realmente não pertenço aqui. Só tive sorte. Se as pessoas soubessem quem eu realmente sou, não me considerariam uma pessoa de sucesso." Se esses pensamentos lhe são familiares, você pode estar vivenciando a síndrome do impostor – um fenômeno psicológico que pode questionar até mesmo o maior dos sucessos.
Embora se tenha começado a falar mais sobre isso apenas nos últimos anos, essa condição não é nenhuma novidade. Já em 1978, as psicólogas Pauline Clance e Suzanne Imes a descreveram quando notaram que muitas mulheres bem-sucedidas tendiam a atribuir seus resultados ao acaso, à supervalorização por parte dos outros ou ao esforço excessivo, e não às suas habilidades. E não eram só as mulheres – os homens também se sentiam assim, apenas falavam menos sobre isso.
Hoje, estima-se que até 70% das pessoas experimentam em algum momento da vida sentimentos que correspondem a esta síndrome. Falaram sobre isso atores como Tom Hanks, empresários como Howard Schultz ou a famosa escritora Maya Angelou. E apesar de parecer que isso afeta apenas pessoas excepcionalmente bem-sucedidas, a realidade é diferente – a síndrome do impostor pode afetar qualquer pessoa, independentemente da idade, área ou resultados alcançados.
Por que nos sentimos como impostores?
A essência da síndrome do impostor (às vezes referida em inglês como imposter syndrome) reside na crença profundamente enraizada de que nossos sucessos não são merecidos. Pessoas com essa síndrome acreditam que estavam apenas no lugar certo na hora certa, que seus pares estão enganados ao considerá-las competentes, ou que tudo o que conseguiram é resultado do acaso.
Frequentemente, isso começa ainda durante os estudos, quando os alunos têm medo de falar porque acreditam que seus colegas sabem mais. Mais tarde, no trabalho, têm medo de pedir uma promoção ou aceitar uma tarefa mais responsável, pois sentem que não merecem. E mesmo quando alcançam o sucesso – publicam um artigo, ganham uma bolsa de estudos, lideram uma equipe, constroem uma empresa – em vez de alegria, vem a ansiedade: "Desta vez deu certo, mas da próxima vez certamente será revelado que não sou capaz."
A síndrome se manifesta de várias formas – algumas pessoas se afastam de situações em que poderiam ser avaliadas, outras se sobrecarregam, trabalham até tarde da noite e estão constantemente tentando compensar suas supostas deficiências. O resultado é estresse crônico, ansiedade, esgotamento e, em alguns casos, até depressão.
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Não é apenas sobre baixa autoestima
À primeira vista, pode parecer que a síndrome do impostor é apenas uma forma de baixa autoestima. Mas a realidade é mais complexa. Muitas pessoas com essa síndrome parecem externamente confiantes, são eloquentes, bem-sucedidas, têm experiência – mas internamente lutam com dúvidas profundas sobre seu próprio valor. Curiosamente, esse fenômeno costuma afetar principalmente aqueles que são realmente competentes, porque são eles que melhor entendem a complexidade de suas áreas e veem o quanto ainda "não sabem".
Além disso, o contexto cultural e social também desempenha um papel. Pessoas de grupos marginalizados – como mulheres em áreas técnicas, pessoas de outras etnias ou a primeira geração de universitários na família – enfrentam essa síndrome com mais frequência, pois se sentem como forasteiros em ambientes onde não são suficientemente representados. "As dúvidas sobre si mesmo começam a se tornar a norma quando ninguém ao seu redor se parece com você," disse uma vez uma professora de uma universidade americana em entrevista à Harvard Business Review.
Como lidar com isso?
Se você se reconhece nisso, saiba que não está sozinho. A boa notícia é que a síndrome do impostor pode ser gerenciada – não necessariamente eliminada, mas aprender a conviver com ela de maneira que não o limite.
Um dos primeiros passos é nomear o problema. Muitas pessoas não percebem até o momento em que leem ou ouvem sobre a síndrome que seus sentimentos não são únicos. Apenas o simples reconhecimento de que existe algo como a síndrome do impostor pode trazer alívio.
Além disso, ajuda falar sobre seus sentimentos com os outros – com colegas, amigos, mentores. Conversas abertas muitas vezes revelam que os outros também têm dúvidas semelhantes. Isso cria um espaço para compartilhar experiências e naturalmente enfraquece a sensação de isolamento que essa síndrome frequentemente acompanha.
Também é útil reavaliar suas próprias expectativas. As pessoas que sofrem dessa síndrome muitas vezes têm expectativas excessivamente altas em relação ao seu desempenho. Elas aprendem que é suficiente ser "bom o bastante", e não perfeito. Isso não significa reduzir as ambições, mas sim ter uma relação mais saudável consigo mesmo.
Por fim, é bom lembrar-se conscientemente de seus próprios sucessos – escrever, por exemplo, um diário onde você anota a cada semana o que conseguiu, o que aprendeu, o que superou. Esse tipo de registro de provas concretas pode trazê-lo de volta ao chão em momentos de dúvida.
Exemplo real - Tereza, arquiteta iniciante
Tereza formou-se em arquitetura com honras e logo após a faculdade conseguiu um emprego em um estúdio respeitável. No entanto, ela sempre sentiu que cometeram um erro ao contratá-la. Quando apresentava um projeto ao cliente, sentia-se como se estivesse atuando – que estava apenas fingindo saber o que fazia. "Tinha a sensação de que todos os outros eram mais talentosos, experientes, confiantes," diz ela. Após alguns meses de exaustão, começou a perceber que essa voz interior se repetia continuamente. A terapia ajudou, assim como conversas com colegas que compartilhavam experiências semelhantes. Hoje ela não se pergunta mais se é boa o suficiente. Em vez disso, pergunta-se o que pode aprender a seguir – e isso a impulsiona adiante.
Quando o crítico interno ofusca a realidade
A síndrome do impostor é como uma pequena voz na cabeça que questiona tudo o que fazemos. Afirma que estamos enganando os outros, que não somos competentes o suficiente, e que tudo o que conseguimos foi por acaso. Mas como diz a psicóloga americana Valerie Young, que estuda esse assunto há mais de vinte anos: "Os verdadeiros impostores não costumam ter essas dúvidas."
Isso significa que o fato de você duvidar é um sinal de que você se importa com os resultados, que tem responsabilidade e que reflete sobre suas habilidades. Pessoas sem um pingo de autorreflexão ou empatia raramente sofrem da síndrome do impostor.
Portanto, se você sente insegurança, ansiedade ou tem tendência a minimizar suas habilidades, pode estar lutando com esse crítico interno silencioso, mas muito comum. E embora sua voz nunca desapareça completamente, você pode aprender a ouvi-la à distância – e gradualmente deixar de acreditar nela.
Porque o sucesso não é prova de acaso. E o reconhecimento dos outros não é um erro. É o resultado do seu trabalho, paixão, esforço. E você merece isso.